27 maio, 2010

Mudar de comboio!










Certo dia dei por mim a pensar no passado dos meus dias. Isso assustou-me um pouco. O que significa pensar-se no passado? Significa que deixamos de nos focar no momento de agora. E nesses segundos de distracção, perdi as preciosidades que o presente me oferecia. Interroguei-me...À quanto tempo estou parada? À quanto tempo parou este comboio nesta estação? Olhei pela janela...ao fundo as linhas intercruzadas dos carris. Corri pelas carruagens, olhando em busca, sem saber muito bem de quê ou de quem. Juro...a solidão percorreu-me a alma. Arrepiei-me. Porque fiquei eu parada tanto tempo?
O silêncio era pesado. Já não havia ar fresco.
Repentinamente, levada pela intuição de um sussurro gritei: deixem-me sair....deixem-me sair, por favor.
Mudei de comboio, pois. 

Às vezes é urgente dar o salto para o abismo e correr o risco e a oportunidade de encontrar o inesperado.

Alice, em viagem interna

21 maio, 2010

Beijos

  "¿Qué es aquello?

- Una cometa,
un destello,
un camino de luz.

Pide un deseo.

- ¿Por qué me miras con ojos traviesos?

 
- Porque le he pedido
que me des un montón de besos".

Txabi Arnal Gil.






Alice e o amor.

20 maio, 2010

Dentro de nós!

Um velho índio estava a falar com o seu neto e contava-lhe:

"Sinto-me como se tivesse dois lobos lutando no meu coração.
Um é um lobo irritado,
violento e vingativo.
O outro está cheio
de amor e compaixão."

O neto perguntou:

"Avô, diga-me, qual
dos dois ganhará a luta
no seu coração?"

O avô respondeu:

"Aquele que eu alimente."






















Alice e as estórias do mundo

16 maio, 2010

Ser grande!






 



“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive”
Ricardo Reis 
 
Alice, em viagem interna

11 maio, 2010

Perdi-me no mar!

Perdi-me no mar
não sei em que momento
não sei em que onda
por entre o balançar de sons
perdi-me na sombra, nas vozes que tilintavam ao frio
nos rumores de ecos infindáveis
os pássaros vagueavam
poisando aqui e ali nas águas chuvosas
da nova estação

não sei bem porquê, não sei bem quando...
escondi-me do vento, tapei a cara à chuva
molhei-me de sal e espanto

o céu abriu-se em luz e eu olhei pela primeira vez
para um outro corpo imerso em sofrimento
foi aqui que tudo começou...no lugar em que o rio abraça o mar
no espaço que medeia entre a serenidade e a interrogação

encontrei-me vestida de branco
com o riso a voar nas asas do homem pássaro.
fechei os olhos e deixei-me cair a 360 graus
numa noite qualquer.

tu não estavas lá.



Textos secretos de Alice (séc. XIX)

10 maio, 2010

Palhaços voadores...palhaços pensadores

Li algures que um estudo recente prova que quando um palhaço voador se torna num palhaço pensador fica feio.Claro que isto só é verdadeiramente exacto se acreditarem que existem palhaços voadores, no verdadeiro sentido do conceito. Talvez nem seja um conceito, mas uma forma rara de levar a existência a atingir um estádio de leveza e contemplação; uma forma de colorir o centro da vida de vermelho. 
Decididamente, acho que um verdadeiro palhaço voador nunca se torna num palhaço pensador, ou não seria um palhaço voador genuíno.



Alice e os Palhaços Voadores

09 maio, 2010

A vida não cabe num circulo perfeito!


Alice, a 359 graus
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06 maio, 2010

Soon this space will be too small!




Soon this space will be too small
and i’ll go outside
to the huge hillside
where the wild winds blow
and the cold stars shine

i’ll put my foot
on the living road
and be carried from here
to the heart of the world

i’ll be strong as a ship
and wise as a whale
and i’ll say the three words
that will save us all
and i’ll say the three words
that will save us all

soon this space will be too small
and i’ll laugh so hard
that the walls cave in

then i’ll die three times
and be born again
in a little box
with a golden key
and a flying fish
will set me free

and i’ll go outside
soon this space will be too small
all my veins and bones
will be burnt to dust
you can throw me into
a black iron pot
and my dust will tell
what my flesh would not

soon this space will be too small
and i’ll go outside

Alice, em construção

05 maio, 2010

As estações mudam!

Sou da opinião que o que uma pessoa traz vestido diz muito acerca do estado da sua existência em determinado momento.Vejam só... encontrar alguém em plena Primavera, vestido de Inverno, por exemplo. Um dia de sol e um individuo assimila camisolas escuras e quentes da estação passada. Poderá ser distracção...sim. Mas deste tamanho? Do tamanho do esquecimento de si próprio?  Ou pode ser alguém com a alma em sofrimento, que não viu ainda que o sol espreita no horizonte. Se assim fôr, que cegueira dos instantes em que a vida fervilha de cores e aromas. 

Que gélido coração ao não permitir que os momentos de transformação ocorram, pois o Inverno teima em permanecer. Com o tempo, não nascerão flores e secarão as raízes.

 

 Alice, preocupada com um desconhecido

03 maio, 2010

O destino


Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.

(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.

Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar"

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A fuga nunca poderá ser uma solução, mas apenas o adiar o inadiável. Há acasos que nos comandam o percurso; pressentimentos que nos guiam a razão e o coração.Como é bom ter momentos iluminados, em que todo o caminho, outrora perdido na obscuridade, se enche de intuições e mudança. E, seremos sempre uma mesma pessoa, transformada em mil possibilidades. Se estamos disponíveis, o universo pode ser nosso. Então, podemos partilhá-lo em pedacinhos com o mundo que nos rodeia, seja ele conhecido ou desconhecido. É por isso que trago sempre comigo um frasquinho de estrelas acolhidas  em noites despertas. Posso sempre dar uma a alguém especial que encontre no meu caminho.
Alice, em viagem interna