30 junho, 2010

Sumire lutava literalmente com unhas e dentes para se tornar escritora. Nada se podia intrometer entre ela e a escrita tal como nada se pode intrometer entre nós e a nossa essência.

Tem sido sempre assim, desde miúda. Quando havia uma coisa que não percebia, agarrava, umas atrás das outras, nas palavras espalhadas a meus pés e alinhava-as, por forma a com elas construir frases. Quando não conseguia, voltava a espalhá-las, a arrumá-las segundo outra ordem. À força de repetir esse gesto vezes sem conta, tornei-me capaz de pensar sobre as coisas como o comum dos mortais. Para mim, escrever nunca foi difícil. Enquanto as outras crianças se divertiam a apanhar pedras ou bolotas, eu escrevia. Tão naturalmente como respirava.
in Haruki Murakami, Sputnik, meu amor
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Descobri esta preciosidade numa lista de livros preferidos de alguém. Fiquei muito curiosa para o ler, pois também eu gosto de espalhar as palavras para voltar a arrumá-las, de uma outra forma. Curioso, não?


Alice e as Descobertas



22 junho, 2010

verso a los ojos que están lejos


me he levantado muy temprano

y me sentado frente a la ventana,


a ver si veo


tus ojos.


pero nada descubro


en esos muros.


si encontrara tus ojos


me acharia a nadar en ellos.


j. sarrionandia. 

Alice e o amor.


20 junho, 2010

Em que pensar, agora, senão em ti?

Em que pensar, agora, senão em ti? 
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. 
Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

Nuno Júdice
texto encontrado em: http://50p30m.blogspot.com/
Alice e as viagens

17 junho, 2010

O que é que farias se gostasses mesmo muito de ti?


se eu gostasse mesmo muito de mim?
dava-me abraços, beijos e sorrisos, por tudo e por nada...saltava de alegria, cantava na rua, faria disparates e infantilidades e faria rir os outros de tão contente que ficaria. Ah...e fazia-me surpresas, porque se eu gostasse mesmo muito de mim iria querer surpreeender-me, para que gostasse ainda mais de mim...

se eu gostasse mesmo muito de mim...iria gostar mesmo muito dos outros.
acho que gosto mesmo muito de mim.

Alice e o mundo

16 junho, 2010

Em busca da Felicidade

"La felicidad es algo dificil de conseguir porque, em realidad, nuestro organismo no está diseñado para alcanzarla sino para ir en pos de ella.
Al fin y al cabo, si todos nuestros deseos fueran consumados, si nos sentiésemos saciados en todos los sentidos, caeríamos víctimas de la inactividad.
Y la necessidad de movermos, de luchar, de buscar lo que necessitamos, es lo que nos mantiene vivos y alerta, lo que hace que la vida tenga sentido"

Larau Carrau, La felicidad camuflada (in Redes para la Ciencia)


Alice, em viagem interna

15 junho, 2010

Vem sentar-te comigo, Lidia.

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente
fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de
mãos enlaçadas.(Enlaçemos as mãos).
...Depois pensemos,
crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca
regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais
longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena
cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais
vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.

Fernando Pessoa 

Alice e as viagens

09 junho, 2010

Assim surgiram as estrelas cadentes!

Quando do céu cai uma estrela
é porque um coração se envolveu nos mil fios do universo!

Assim, surgiram as estrelas cadentes






Textos secretos de Alice (Séc. XXI)

03 junho, 2010

no estado gasoso!

Fui em certa altura uma série de grânulos de uma qualquer luz desfeita e tendo ficado nesse estado absurdo e ameaçador peguei em mim e meti-me dentro de um frasco que tapei meticulosamente de maneira a não perder de mim qualquer parte imaginava que olharíeis para mim com imensa piedade e eu sempre soube que não conseguiria abandonar-me.


Alice e os devaneios