30 junho, 2010

Sumire lutava literalmente com unhas e dentes para se tornar escritora. Nada se podia intrometer entre ela e a escrita tal como nada se pode intrometer entre nós e a nossa essência.

Tem sido sempre assim, desde miúda. Quando havia uma coisa que não percebia, agarrava, umas atrás das outras, nas palavras espalhadas a meus pés e alinhava-as, por forma a com elas construir frases. Quando não conseguia, voltava a espalhá-las, a arrumá-las segundo outra ordem. À força de repetir esse gesto vezes sem conta, tornei-me capaz de pensar sobre as coisas como o comum dos mortais. Para mim, escrever nunca foi difícil. Enquanto as outras crianças se divertiam a apanhar pedras ou bolotas, eu escrevia. Tão naturalmente como respirava.
in Haruki Murakami, Sputnik, meu amor
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Descobri esta preciosidade numa lista de livros preferidos de alguém. Fiquei muito curiosa para o ler, pois também eu gosto de espalhar as palavras para voltar a arrumá-las, de uma outra forma. Curioso, não?


Alice e as Descobertas



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