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13 outubro, 2010

Cartas de Lady Alice,

Amo meu,
Desculpai minha ousadia, mas a inquietação perturbou de dúvidas o meu dia.
Apraz-vos pensar que sou um ser somente das trevas?
Pois sabei que a luz também invade a janela do meu quarto, deixando atordoada a minha alma.
Se me quereis, e eu digo, se me quereis una, conhecei de mim o negrume e a claridade de uma qualquer manhã de pássaros, sussurrando despertares.
Peço-vos, meu amo, meu servo leal, não mais me enclausureis em lugares longinquamente negros, de janelas fechadas.
Não mais regressarei a essas grades, juro, não mais regressarei.
Dai-me o céu, o ar e o vento na luz do dia, misturando-se na multidão e no lusco-fusco do anoitecer, na invisibilidade de nossos corpos despidos.
Se me quereis, e eu digo, se me quereis com a força de um desejo de fogo e na minha pele depositais vosso consolo, então levai-me para longe das grades tortuosas de outrora, salpicadas de sangue e mentira.
Ah, meu amo…serei vossa serva, se me deres asas; serei vossa condenação se me fizeres tumba.
E neste enlace do nosso caminho, nada mais me restará do que amarrar-me no cavalo mais veloz e fugir de vosso encanto.









Lady Alice.

Textos secretos de Alice

05 julho, 2010

Das cumplicidades.


o deserto a pairar no teu olhar.

não exclamavas sinais indecisos mas eu vagueava no vazio.
o gosto pela dúvida arruinava-me. era o desencanto...emergia no teu peito um tremor cálido de embaraços sempre contidos pela distância ténue e abismal que nos separava.
envolvia-me uma sombra túmida da qual dificilmente me libertaria, uma vez que a desolação era uma noite contínua.
no espaço gasoso duas formas simétricas ocupavam o mesmo espaço, limitado por linhas coloridas, já quebradas pelo embate. o ar impregnara-se de silhuetas orgânicas e deambulavas obsessivo como se me pretendesses alcançar e imediatamente libertar-me desse emaranhado de sensações e orgasmos fictícios.

ao fim da tarde iniciavas os cânticos do sol poente, murmurando sensualidades nos meus cabelos. ficava a pairar por entre o xaile negro...
não existia um tempo calculado e então, proliferavam ecolalias de desesperos, em mim, como se me afugentasses em cada momento da tua solidão.

eram reminiscências do passado que eu juntava ao olhar para o papel impresso de imagens. uma súbita sufocação pelo enlace das mãos e rapidamente o ódio pela paragem do tempo, imposto pela máquina. deixavas-te cobrir pelos picos de chuva que se reproduziam ensanguentados; depois o céu aberto em alucinações de mil corpos.

passava, roçando os cabelos no vento e com uma pedra esmagava-te a base do crânio até escorreres espanto. sorrias, desacreditado.

enterravas as velas na terra em actos de prestidigitação e intuía-se que o futuro seria melhor; mas, quase morrias no pesadelo criado. eu fui-me embora.

a vergonha da escuridão. vias-me nos templos, a passear nos véus, envolta em ares de nudez plácida e rapidamente tudo se esvanecia. porque pensarias nisto?
eramos anciães a procurar o passado longínquo, acumulado em reencarnações contínuas. porém, confundia-nos a incerteza do caminho...existia uma dúvida; podia não ser agora. regurgitavas exclamações num vómito fétido e quente; eu amava-te.

e percorria nas têmporas, o hálito adocicado da manhã, enquanto eras só de um corpo, para depois te multiplicares em razões inquestionáveis, porque , como eu depreendia, no âmago da cidade, o ar era claustrofóbico e não sabias qual era o ponto exacto da ruptura. nem eu.

a humidade desmaiava nas minhas mãos e eu apertava-as para redefinir a lógica delicada das emoções. em vão dizia-te que nos céus não há sons e logo cravavas interrogações. abandonavas-te em quimeras distantes do tempo ciciado em rumores.
sentias uma espécie de exaltação interior que se espalhava como uma doença maligna e se ia escondendo em cada recanto do teu corpo, nos poros suados, na mente que não parava de imaginar situações impossíveis; um arrepio que subitamente me aflorava a alma e descia pelos riachos do teu olhar. isto significava lágrimas de imagens passadas e lugares que conhecêramos; significava as folhas nos plátanos doirados quando o sol foge agoniado pelo embalo do mar. e no âmago incerto, eras a pedra que sustentava a angústia profícua do meu claustro.

desconhecia que depois jamais te iria encontrar... envolvia-me em desmemorizações e achava-te nas profundezas do filme. após a guerra nada restou... o silêncio de cor púrpura fincou as mãos na terra, imobilizando-me e as formigas caminhavam estremecidas pelo bater do coração. tornava-se inseparável o homem, da ausência no teu olhar. 
este mantinha-se em riste, perdido no céu vazio e a contemplação tornou-se o meu desespero. levantavas os braços e tudo se camuflava de areia branca, a ousar o domínio da razão, em correntes estáticas. eu já não sabia qual era o teu corpo, porque viajava incógnito na paisagem.

na melancolia sussurrante contavas-me os sonhos em vez das horas; eu, respirava o mundo em círculos giratórios. no tempo da luz, havia ilusões a dominar o pensamento das pessoas e o abraço era cruel, por entre as deambulações das mandíbulas famintas. 
nunca mais haveríamos de continuar por entre as cortinas, a ver ao longe um mundo que não era o nosso.

eramos poderosos de garras rendidas ao sonho e tudo podia esperar. ao fim da tarde começaste a ser uma névoa morna de cuidadosas transformações. mas aos poucos o céu foi transparecendo de outras imagens e eu já não podia avistar-te. 

quando a escuridão se tornou total eu soube nesse instante que tinhas morrido.

e no entanto, mesmo depois do silêncio chegado, quantas clausuras nos emparedaram. a interrogação abrupta tornou-se a minha sombra.

amedrontam-me as figuras do bosque, no dia claro, agora que já não estás aqui.
a rua já não é a mesma rua; enche-se de lágrimas de vez em quando e o mar inunda de angustias os meus dias.
se eles vierem cobre-me de pétalas de flores, para que eu possa ser o segredo nas tuas mãos... 
e deixa-me gritar.
In Cumplicidades, de Alice Laranjeira
(As 4 Luas de Júpiter)

09 junho, 2010

Assim surgiram as estrelas cadentes!

Quando do céu cai uma estrela
é porque um coração se envolveu nos mil fios do universo!

Assim, surgiram as estrelas cadentes






Textos secretos de Alice (Séc. XXI)

07 abril, 2010

Olá


Vinha não sei de onde
E encontrei-te.
Não olhavas para o horizonte.
Bebias o chão.
Da terra, dizias...
Da terra tudo emerge.

Não te disse nada.
Quanto mais choravas
Mais o vento te levava para longe.

Olhei em frente.
Surpreendi-me.
Tinham roubado o céu.

Desataste a rir.

Foi quando te disse olá.


 






textos secretos de Alice (Séc. XXI)

02 abril, 2010

Helena


Era um dia como outro qualquer…mas algo aconteceu de diferente. Helena não se levantou da cama. Perdera a vontade de existir. Perdera a vontade de se olhar ao espelho e se achar bonita. Perdera-se.
Não havia uma razão específica. Era uma espécie de vazio súbito.

textos secretos de Alice (Séc. XXI)